Outro dia, observei um profissional respeitado da área de arquitetura, alguém com um portfólio invejável e anos de experiência, produzindo um conteúdo completamente desconexo com sua expertise para “engajar” nas redes sociais. Não era uma dancinha, mas algo igualmente performático e, francamente, um tanto constrangedor. Essa cena me fez refletir profundamente sobre a autenticidade nas redes sociais e como o algoritmo parece ter um papel central em transformar a busca por “ser real” em uma mera performance calculada.
De fato, somos constantemente bombardeados com a exigência de “ser autêntico”, de “mostrar a verdade”. Contudo, o algoritmo, esse guardião invisível das plataformas, parece recompensar apenas quem se encaixa em padrões predefinidos, quem performa de um jeito específico. Assim, o que emerge é uma ilusão de autenticidade industrializada, onde a verdade é frequentemente maquiada para agradar a máquina. É uma contradição gritante: as redes sociais, que prometem conectar pessoas de forma genuína, acabam por nos empurrar para um palco onde a performance é a moeda mais valiosa.

O paradoxo da autenticidade digital: entre o ser e o parecer
Afinal, o que significa “ser autêntico” em um ambiente digital onde cada interação é mediada por códigos e métricas? Frequentemente, a palavra “autenticidade” tornou-se um mantra vazio. Marcas, influenciadores, e até mesmo profissionais liberais – todos almejam ser vistos como autênticos. No entanto, a própria estrutura das plataformas digitais parece conspirar contra a espontaneidade e a expressão genuína.
Pensemos na dinâmica: para que seu conteúdo seja visto, ele precisa de hashtags estratégicas, de um timing de postagem otimizado e, muitas vezes, de seguir tendências que pouco se alinham com sua essência. A vulnerabilidade, por exemplo, é um traço humano valorizado, mas nas redes, ela frequentemente vem acompanhada de uma trilha sonora dramática e um ângulo de câmera perfeito. Isso não é autenticidade; é, antes de tudo, um teatro algorítmico.
O algoritmo como curador de padrões: Por que ele não gosta de você (o autêntico)
Para entender essa dinâmica, é crucial desmistificar o algoritmo. Ele não é uma entidade neutra com sentimentos. Pelo contrário, ele é um conjunto de regras e cálculos desenhados com um propósito muito específico: manter você e outros usuários o maior tempo possível dentro da plataforma. Para isso, ele busca padrões de comportamento que geram engajamento. E o que gera engajamento massivo? Muitas vezes, não é a profundidade ou a originalidade, mas sim o que é facilmente digerível, o que provoca reações rápidas, o que se assemelha ao que já fez sucesso.
Enquanto você se esforça para mostrar sua essência, o algoritmo está lá, com sua lógica fria, buscando sinais que ele já aprendeu a reconhecer. Se o seu conteúdo não se encaixa nesses sinais – seja por ser muito nichado, muito complexo ou simplesmente diferente do “padrão de sucesso” – ele simplesmente não o distribui. É como se a plataforma dissesse: “Seja você mesmo, mas só se o ‘você mesmo’ for similar com o ‘você mesmo’ que já viralizou”.
Baseado em dados históricos
Adicionalmente, os algoritmos são treinados com dados históricos. Eles aprendem o que “funciona” com base no que já gerou engajamento no passado. Se, historicamente, conteúdo polêmico, superficial ou que apela para emoções primárias (raiva, medo, euforia) gerou mais cliques e compartilhamentos, o algoritmo vai aprender a priorizar esse tipo de conteúdo. Isso cria um ciclo vicioso: recomenda-se muito mais o que já foi popular; o que é mais recomendado se torna mais popular; e o que é diferente ou especializado fica invisível porque não tem um histórico de “sucesso” para o algoritmo se basear. É um viés estrutural que dificulta a descoberta de conteúdo verdadeiramente inovador ou nichado. Para aprofundar essa discussão, vale a pena ler sobre os vieses dos algoritmos em plataformas digitais. Entenda mais sobre os vieses dos algoritmos em plataformas digitais
A real batalha pela visibilidade e a autenticidade nas redes sociais
A gente vê isso acontecer o tempo todo. Criadores com ideias brilhantes, com um conhecimento profundo em suas áreas, lutam para serem vistos, enquanto outros, com conteúdo mais genérico e “algorítmico”, disparam em visualizações.
- O criador Invisível: Pense, por exemplo, no Dr. Ricardo Oliveira, um arquiteto com 20 anos de experiência, que posta análises técnicas sobre sustentabilidade urbana e urbanismo tático. Seu conteúdo é denso, útil e transformador para quem realmente se interessa pelo tema. No entanto, suas postagens raramente alcançam mais de algumas centenas de pessoas. O algoritmo não entende a profundidade, não vê os “sinais” de viralização e, portanto, não o distribui. Ele é autêntico, mas invisível.
- O sucesso calculado: Por outro lado, temos o “@arquiteto.trends”, que faz vídeos curtos e dinâmicos mostrando “5 dicas para decorar sua sala em 1 minuto”, com transições rápidas, músicas populares e um tom de voz sempre animado. O conteúdo pode ser superficial para um profissional da área, mas é altamente consumível e gera milhões de visualizações. Ele não está necessariamente sendo “falso”, mas está performando um tipo de autenticidade que o algoritmo adora: rápido, visualmente estimulante e fácil de compartilhar.

Esses exemplos, embora generalizados, ilustram a dicotomia. O Dr. Ricardo, com sua autenticidade acadêmica, luta contra a corrente. O @arquiteto.trends, com sua autenticidade performática, surfa na onda do algoritmo.
Navegando a ilusão: estratégias para o autêntico
Então, o que fazer? Desistir das redes sociais? Não necessariamente. A chave está em entender o jogo e redefinir o que significa “sucesso” para você.
Primeiramente, para quem busca uma conexão genuína e um público qualificado, não se deve medir o sucesso apenas por números de seguidores ou visualizações. O objetivo é alcançar as pessoas certas, aquelas que realmente valorizam seu conteúdo e seu trabalho. Isso significa focar em nicho, em profundidade, em construir uma comunidade, e não em viralização massiva.
Em segundo lugar, a melhor forma de driblar o algoritmo é não depender dele. Construir canais diretos de comunicação é fundamental. Uma newsletter, por exemplo, permite que você se comunique diretamente com sua audiência, sem intermediários. Um blog bem estruturado, com conteúdo de valor, pode atrair pessoas através de buscas orgânicas no Google, que é um algoritmo de intenção, não de engajamento. Comunidades online (grupos de WhatsApp, Discord, fóruns especializados) também são excelentes para criar conexões reais.
Esses canais podem não te dar a “fama” das redes sociais, mas te darão algo muito mais valioso: conexão real e um público engajado que realmente se importa com o que você tem a dizer.

Onde a autenticidade encontra o propósito (e o web design)
É aqui que meu trabalho como web designer se encaixa. Acredito que seu site e seus canais diretos são o seu verdadeiro lar digital. É onde você tem controle total sobre sua mensagem, sua estética e sua forma de se conectar.
Um web design estratégico não é apenas sobre ter um site bonito. É sobre criar um espaço que reflita sua verdadeira autenticidade, que comunique seu propósito de forma clara e que sirva como um santuário para sua voz, livre das amarras do algoritmo. É onde você pode mostrar seus projetos com a profundidade que eles merecem, apresentar seus serviços com a qualidade que você entrega, e construir uma narrativa que seja verdadeiramente sua.
- Seu site como território soberano: Nele, você controla a narrativa, aprofunda conexões e converte qualidade, sem competir com dancinhas ou tendências passageiras. Descubra como um web design estratégico pode amplificar sua voz autêntica.
- Identidade Visual: Sua identidade visual, por sua vez, é a expressão visual dessa autenticidade, garantindo reconhecimento e valorização de sua marca em todos os seus canais. Conheça meus serviços de identidade visual.
Afinal, a psicologia comportamental nos chama atenção para um dado importante: que a busca por validação social nas redes sociais pode levar a um ciclo vicioso de performance e ansiedade, distanciando os indivíduos de sua verdadeira autenticidade.
“A busca por validação social nas redes sociais pode levar a um ciclo vicioso de performance e ansiedade, distanciando os indivíduos de sua verdadeira autenticidade.” — Fonte: Artigo de psicologia comportamental sobre validação social e redes sociais.
A escolha é sua: palco ou propósito?
Portanto, enquanto as redes sociais continuam a nos pedir autenticidade e a recompensar a performance, cabe a nós decidir onde investimos nossa energia. Podemos continuar na corrida por likes e visualizações. Ou podemos construir algo mais sólido, mais verdadeiro, onde nossa autenticidade não seja uma ilusão, mas sim a base de tudo.
Pense nisso: seu site, sua newsletter, suas comunidades. Esses são os lugares onde sua voz autêntica pode realmente ressoar, sem precisar da permissão de um algoritmo. Sua autenticidade é valiosa demais para ser terceirizada para uma máquina.







