A ideia de um arquiteto gerente de projetos pode parecer óbvia, mas não é bem assim. Ainda que desenvolvida e corriqueiramente utilizada na esfera executiva e empresarial, a ideia de gestão de projetos cada vez mais tem conquistado espaço em diversas áreas.
Isso porque em toda área há ações relacionadas à resolução de problemas. Segundo dados do Instituto de Gerenciamento de Projetos (PMI), até 2027, a economia global exigirá 87,7 milhões de funções de gerenciamento de projetos. Ou seja, a gestão estará cada vez mais presente no currículo do trabalhador comum. E isso inclui o arquiteto.
Trazer esse conjunto de práticas e estratégias para se pensar um gerente de projetos na arquitetura é uma ideia não só importante para o desempenho profissional, como também de sobrevivência. Mas há alguma vantagem ao profissional, visto que o trabalho do arquiteto está sempre em torno de projetos.
Correlacionando as áreas de conhecimento, o arquiteto terá ganhos significativos ao executar o projeto dentro do prazo, atender às expectativas dos clientes, valorizar seu tempo e seu próprio trabalho. Isso tudo apenas considerando incorporar novas ferramentas de gestão.
Arquiteto gerente de projetos? Quem é esse profissional
A graduação em Arquitetura e Urbanismo capacita o estudante do ponto de vista técnico e conceitual. Assim, o profissional formado estará habilitado a desenvolver as atividades técnicas esperadas por um arquiteto e urbanista. Porém a formação acadêmica é deveras generalista, não restando muito tempo para tratar de assuntos o viés empresarial.
O conhecimento do setor de negócios permite ao arquiteto entender e se preparar para a atuação profissional. Mesmo que o profissional formado não venha a trabalhar em uma grande empresa, optando por trabalhar em escritórios de menor porte, ou até mesmo abrir o seu próprio negócio autônomo. Independentemente, é importante ter o entendimento empresarial e conhecer as ferramentas disponíveis para gestão, tanto de projetos quanto de empresas.
O fato é que o arquiteto e urbanista precisa estar apto a entregar o serviço contratado com sucesso, de forma segura, ágil e eficiente. Nesse sentido, compreender as estratégias do gerenciamento de projetos irá contribuir para que essas questões se concretizem. Dentre os principais benefícios de uma boa gestão de projeto figuram o controle dos processos, entregas no prazo, redução de riscos e desperdício de recursos, agilidade e eficiência nos processos e soluções de problemas.
Gerenciamento de projetos: algumas definições
O Instituto de Gerenciamento de Projetos (PMI) define o projeto enquanto “um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo”. Para que este projeto se desenvolva, é necessário que um profissional ou equipe assuma a responsabilidade de planejá-lo, executá-lo, monitorar os processos e entregá-lo ao solicitante.
Sem sombra de dúvidas, é uma definição muito próxima ao que verificamos no trabalho do arquiteto, já que o mesmo dedica um período para criar um produto imobiliário exclusivo que traga soluções solicitadas por um cliente. Nesse sentido, é fácil estabelecer relações e aplicar os conceitos de gerenciamento de projetos às atividades do profissional arquiteto.
Nesse sentido, é preciso ter habilidades para enfrentar momentos críticos e eventuais adversidades do projeto. Por isso a importância do gerenciamento ao organizar e distribuir as atividades para equipes, liderar o projeto em várias etapas e acompanhá-lo até a entrega às partes interessadas.
A lógica do gerenciamento de projetos é trazer um conjunto de boas práticas que envolvem técnicas, ferramentas e estratégias ao gestor a fim de otimizar a administração das atividades. Dessa forma, garante-se que a realização das atividades ocorra de maneira fluida, com foco e assertividade nas tomadas de decisão.
Nesse sentido, o Project Management Body of Knowledge, também conhecido como guia PMBOK®, reúne conhecimentos e práticas bastante úteis que podem ser aplicadas à maioria dos projetos. Desenvolvido pelo PMI, busca estabelecer um padrão de gerenciamento que pode aumentar as chances de sucesso de projetos entregarem o valor do negócio e os resultados esperados.
O arquiteto gerente de projetos: Os cinco grupos de processos gerenciais
Na sequência, apresentaremos os grupos de processos que estruturam a lógica do gerenciamento. Com o intuito de caracterizá-los, veremos em que aspectos será possível aproximá-los à dinâmica de concepção de projetos de arquitetura.
Segundo o PMBOK®, o gerenciamento é estruturado em cinco grupos processuais. Assim, o gestor consegue ter controle sobre todas as etapas e garantir o desenvolvimento do projeto.
Iniciação
A etapa em que se formaliza o início do projeto junto às partes interessadas em sua conclusão. Podemos considerar aqui a etapa em que o cliente fecha parceria com o gerente de projetos de arquitetura no escritório, assinando um contrato, definindo as diretrizes do projeto e que produtos ou atividades serão entregues.
Planejamento
Trata-se de uma etapa de estruturação do plano do projeto e de ações complementares. Ou seja, o momento em que o arquiteto irá organizar quais tarefas serão efetuadas, como serão realizadas e quanto tempo irá levar os trabalhos e ações necessárias para atender ao solicitado pelo projeto.
Execução
Nesta etapa o plano definido é executado, objetivando a produção das entregas do projeto. Em outras palavras, é o momento de desenvolvimento da atividade contratada, seja ela um projeto arquitetônico, acompanhamento de obra ou elaboração de algum laudo ou memorial.
Monitoramento e Controle
Nesta etapa há o acompanhamento das ações em execução, avaliando o desempenho com base naquilo que foi planejado, monitorando também os fatores de risco do projeto. Por exemplo, arquitetos que trabalham com acompanhamento de obras verificando se a obra está andando normalmente, se há problemas com mão-de-obra, quantidade e entrega de materiais. Ou arquitetos projetistas, que conferem se os desenhos estão atendendo às normas e legislação de órgãos públicos, bem como se as solicitações do cliente foram atendidas e se está compatibilizado com os projetos complementares.
Encerramento
A etapa que formaliza o encerramento do projeto, celebrando o término entre as principais partes interessadas. Neste momento, encerram-se contratos e eventuais pendências, desmobilizam-se recursos, produzem-se registros e documentação de lições aprendidas para projetos futuros. Inclusive o evento de inauguração do empreendimento, a festa da cumeeira, a entrega do habite-se e das chaves .
As 10 áreas de conhecimento em gerenciamento
Tendo em vista todas as etapas que englobam o projeto, é importante avaliar quais serão os conhecimentos, técnicas e ferramentas que estarão presentes em cada uma delas. Todavia, é importante mencionar que o arquiteto gerente de projetos irá gerir muitas das áreas de conhecimento em uma ou mais etapas. Inclusive, algumas das áreas estarão figurando ao longo de todo o projeto.
Conforme vimos anteriormente, cada projeto é único. Porém o arquiteto gerente de projetos precisará ter domínio de algumas áreas de conhecimentos para dar conta de gerir o projeto de maneira eficiente. A seguir, apresentamos as áreas de conhecimento em gerenciamento de acordo com o guia PMBOK®.
Gerenciamento de escopo
Os processos dessa área de conhecimento têm como objetivo assegurar que o projeto inclua somente as atividades necessárias para o desenvolvimento dos produtos que serão desenvolvidos e entregues, para que o projeto se encerre com sucesso.
Nesse sentido, definir os objetivos de um projeto em contrato é importante para o escritório de arquitetura, de modo que fique claro tanto para o cliente quanto para o próprio profissional quais serviços serão realizados e cobrados. Deste modo, oferece-se segurança inclusive jurídica para ambas as partes envolvidas: o cliente tem garantia sobre o que vai receber, e o arquiteto sabe o que vai entregar e que qualquer atividade complementar solicitada e não definida em contrato poderá ser cobrada à parte.
Gerenciamento da comunicação e stakeholders
Stakeholder pode ser traduzido como atores, ou partes envolvidas em um projeto. Logo, é importante que elas estejam a par sobre em quais momentos deverão atuar no projeto, o que irão fazer, e o que deverão esperar para dar sequência às suas atividades. O objetivo dos processos dessa área é identificar, engajar e monitorar as partes envolvidas no projeto por meio da comunicação.
Nesse sentido, o gerenciamento das partes envolvidas acaba andando junto com o gerenciamento das comunicações, cujo objetivo é definir, organizar, coletar e distribuir as comunicações atribuídas ao projeto.
Que comunicação é a chave de tudo em uma sociedade não é nenhuma novidade. Logo, é importante gerenciar quais serão as informações que serão compartilhadas, quando e, principalmente, com quem. Assim, o gerenciamento da comunicação busca definir padrões de comunicação e manter o alinhamento entre as partes ao longo de todo o projeto.
Nesse sentido, compreender, definir estratégias e gerir a comunicação auxilia bastante o gerente de projetos de arquitetura. Sobretudo em situações específicas, como acompanhamento e gestão de obras. Já que o arquiteto está habituado a gerenciar as partes envolvidas, tal como controlar os anseios dos clientes, mobilizar as equipes prestadoras de serviço. Pensar em estratégias que tornem a comunicação mais eficiente, garantirá a devida transmissão de informações específicas para cada uma das partes envolvidas no projeto, sem a criação de ruídos.
Gerenciamento de cronograma
Prazos de envio de documentação para a prefeitura e demais órgãos públicos de aprovação de projetos, prazos de entrega de materiais em obra, tempo de cura de estruturas em concreto. Talvez a ferramenta com a qual arquitetos e urbanistas mais estejam familiarizados depois dos softwares de desenho seja o cronograma. E não é à toa, visto que uma sequência de várias atividades complexas necessita de uma organização bem definida.
O objetivo do gerenciamento de cronograma é estruturar, organizar e gerenciar as atividades de todo o projeto ao longo do tempo. Desse modo, visa fornecer ferramentas e estratégias para garantir que a execução das atividades ocorra de maneira fluida, evitando contratempos e permitindo que o projeto seja entregue dentro do prazo.
Gerenciamento de custos
O objetivo dos processos relacionados aos custos de projeto é estimar, determinar, controlar e administrar os custos do projeto. Afinal de contas, é importante saber qual o valor de execução de um projeto ou de uma série de atividades, quando serão gerados os custos e controlá-los de modo que não excedam o orçamento inicial aprovado.
Quando se fala em custo, a primeira ideia que vem à mente do arquiteto é a elaboração de orçamentos. E não é à toa, visto que se trata de uma das ferramentas de gestão de custos. Existem outras relacionadas a elaboração de estimativas, financiamentos e criação e controle. Lidar com recursos financeiros de terceiros demanda muita cautela. Desse modo, nada melhor que o gestor de projetos de arquitetura garanta uma boa gestão de custos do projeto.
Gerenciamento de qualidade
Esta área de conhecimento é responsável por analisar e definir métricas e parâmetros de qualidade que o projeto precisa atender. Assim, determina e garante a conformidade dos processos de gerenciamento do projeto e também do produto final do projeto. Ela se relaciona intimamente com a de escopo, visto que é responsável por avaliar e medir o sucesso das atividades e se os produtos e processos estão de acordo com aquilo definido no escopo do projeto.
Ou seja, no âmbito arquitetônico é possível verificar processos de gestão da qualidade. Tais como as visitas técnicas, vistorias, acompanhamento de obras e até mesmo checklists para submissão de projetos em órgãos públicos. Desse modo, é possível avaliar se o projeto está caminhando dentro dos conformes do escopo/contrato.
Gerenciamento de aquisições
Esta área de conhecimento busca definir, coletar, contratar, distribuir e gerenciar as aquisições necessárias para execução do projeto. Por aquisições, entende-se tudo aquilo que é necessário comprar ou contratar, como produtos, materiais ou serviços terceirizados.
Por exemplo, contratar uma vidraçaria para confeccionar as peças de vidro das janelas, ou solicitar o envio de peças para automação residencial de um fornecedor específico. Todos esses processos demandam atenção do gestor, que precisa articular com os custos, cronograma e demais áreas do projeto.
Gerenciamento de riscos
Uma obra pode apresentar vários riscos, tais como acidentes de trabalho, quedas de objetos, impactos na vizinhança, condições climáticas a serem levadas em conta, enfim, muitos fatores que podem comprometer o andamento e a qualidade do projeto. Estar ciente dos riscos permite pensar em estratégias para sanar ou mitigar a intercorrência. Por exemplo, é possível evitar acidentes de trabalho com o uso de EPIs (equipamentos de proteção individual). Ou ainda, em casos de projetos arquitetônicos, definir áreas de taludes em projeto para assim se evitar deslizamentos de terra.
Nesse sentido, os processos da gestão de riscos têm como finalidade identificar, organizar, analisar e monitorar os riscos do projeto, estando pronto para aplicar respostas quando necessário. Quanto maior a complexidade do projeto, maior a necessidade de mapear os riscos e pensar em estratégias para evitá-los ou mitigar suas consequências. Inclusive, a gestão de riscos acaba se relacionando diretamente à gestão de custos, visto que para implementação de medidas de contingência ou contenção será necessário algum tipo de investimento.
Gerenciamento de recursos
Consideram-se recursos de um projeto tudo aquilo que for necessário para desenvolvê-lo. Podem ser recursos físicos, como materiais de construção, suprimentos, computadores, dinheiro, equipamentos para execução de atividades específicas. Já as pessoas são recursos humanos, como a mão-de-obra do projeto. Inclusive o tempo é um recurso (preciosíssimo, diga-se de passagem).
Nesse sentido, a gestão de recursos busca determinar, mobilizar, desenvolver e gerenciar todos os recursos indispensáveis ao projeto.
Gerenciamento de integração
Por fim, chegamos à última, mas não menos importante área. O objetivo dos processos da gestão de integração é definir, unificar e coordenar as várias atividades de gerenciamento do projeto. Eis o calcanhar de Aquiles do arquiteto gerente de projetos.
Depois de apresentarmos todas as áreas anteriores, fica fácil de compreender do que se trata esta última. Afinal, é preciso articular e estar ciente de tudo o que acontece em cada situação do projeto, entender como elas se relacionam. Desse modo garante-se que tudo esteja integrado, a fim de que o projeto entregue os pacotes de trabalho solicitados na etapa de encerramento.
Considerações sobre o arquiteto gerente de projetos: uma definição para fazer sentido
Como vimos, o gerenciamento de projetos é um conjunto de práticas, métodos e ferramentas utilizadas para elaborar, monitorar e desenvolver os processos e atividades de um projeto de maneira ágil. E que o PMBOK® é um excelente guia, que reúne boas práticas, ferramentas e estratégias de gerenciamento para auxiliar o gestor a garantir um bom projeto.
Existem muitas aproximações entre a lógica empresarial e o ofício do arquiteto. De certo modo, ambas as esferas se complementam e o arquiteto poderá tirar proveito disso profissionalmente. Por estar habituado com os processos de projeto, ele poderá aprimorar os conhecimentos com uma especialização. A FGV possui uma pós-graduação em Gerenciamento de Projetos que é bem interessante para arquitetos, até mesmo para os recém formados.
Por fim, é possível incorporar as práticas de gerenciamento tanto em projetos de clientes, quanto na gestão do próprio escritório. O arquiteto gerente de projetos é um profissional completo. Pois tende a possuir conhecimento técnico suficiente da área e, como diferencial, sabe gerir e entregar projetos de maneira ágil, eficaz e dentro dos prazos.
Nesse sentido, a Ígnea Arquitetos Associados é um escritório de arquitetura que aplica ferramentas de gerenciamento em todos os projetos contratados. Aqui no site, também oferecemos consultoria para empresas do ramo. Clique e conheça.
Até a próxima!